
Estavam eles bebendo o tinto cheio, ainda baralhados com a situação da “aparição”, diz o rock para a Amiga:
- Num sabêmes quim foi! Mas temos uma certeza! Aquela cousa dênes o trabalhe de pômes orde im Nisa! Num pudemes falhá! Senãm já sabes, lá vem a luz outra vez!
- Tens rezãm! Eu num tinha munta vontade de voltá a vê aquile! Pela orde dos trabalhes, devemes tratá primêro dos que tãm lá fora e, vê se eles voltim cá pa dentre! E como nes tames à aproximá do Natal, nada melhó do qui lá agora! – Diz a Amiga.
- Lá donde?! Onde é que tu quês i?!
- À França! Passim a vida toda a mandánes postels e a cunvedénes pra lá dimes!
- BAH! Num me digas tu uma cousa dessas?! Tãm come a azêtona já tá apanhéda e vindida, podemes di passié, sim senhora! Até pode sê ca gente arranje pra lá um negôce!
- Lá tás tu com o negóce! Agente vá lá tratá das cousas das “gentes de Nisa”! Eles querim uma estátua! E a gente, porque somes os esculhides, vames lá perguntá de que lade é que eles a querim!
- Sexta que vem vames á França! Fecames im casa do “Prime Daniel”…
Na sexta-feira seguinte, às 11 da manhã, com uma espampanante vista e um barulho avassalador, saiem pela porta da Vila, o Rock e Amiga na sua famel com reboque. A mercadoria era tanta, que o “pára-choques” ao raspar no chão, fazia faísca! Chegados ao local de embarque, na Avenida D. Dinis, junto ao tribunal, no meio da estrada e diz o Rock:
- Temes de tirá tude à pressa, pra podemes escondê a “famel” atrás du tribunel! Quim lá vai, vai tãm aflite que nim vê a“famel”!

- Bom dia! Os senhores não podem levar esta mercadoria toda! – Diz o motorista.
- Num pudemes?! Atãm onde é que nós metemes agora três sacas de azêtonas arretalhédas, três caixas de Vinhe do Jaquim Feguêrede, três garrafões d’azête, 50 quêjes, as 50 cacholêras, a geleira, o taparuiere da boia de toucinhe e da morcela e os nosses pertences!? – Diz a Amiga.
- É que di à França e dêxá cá isse, é o même que di às termas e nãm vê a Valquíria!!!
Mas oulhá senhô motorista! Tames quase no Natal. Queremes levá pra lá umas lembrancinhas! Se lhe demes três quêjos, um garrafã de’azête, três cacholeras e uma caixa de vinhe do Jaquim Feguêrede, dêxa-nes levá o reste?! – Diz o Rock.
- Vá! Entrem lá! Tudo se resolve! – Responde o Motorista.
- Já viste tu o magane do metorista que lá nes fecou com a inquemenda! Hora o que gente levames, com o que lhe demes, não pesa a mesma cousa!? – Diz a Amiga.
Passadas quatorze horas, lá chegam o Rock e Amiga a Azay-le-Rideau. O Rock e a Amiga estavam de boca aberta, com a falta de lixeiras a céu aberto que havia em França, a falta de rios a cheirar a óleo “Friji” e, também não há frigoríficos e máquinas de lavar espalhadas por todo o lado… Mais estupefactos ficaram ao saber que em Paris, a água dos esgotos são aproveitadas, tratadas, devidamente desinfectadas para abastecimento da população novamente…

A Festa de boas vindas foi de “Arromba”! O Rock e a Amiga desconheciam por completo, a quantidade estúpida de litros de vinho que havia por metro quadrado na França.
Chegados a casa do Primo “Daniel”, que é sobrinho, do tio da avó materna, do lado do pai, ou seja, do avô, diz a Amiga:
- Ó Rock! Tu já viste bem iste! Tá tante calor dentre das casas que até podim andá plaches! A gente lá im Nisa, tá um fri do catane! Só cunseguimes tá debaixe da chamemé!
Chegada a hora de jantar, O Rock e Amiga, habituados a sopas de cachola, ensopados, morcelas, bóias de toucinho, deparam-se com uma mesa cheia de vários tipos de queijo, vários tipos de saladas e massas, enfim, um conjunto de pratos que o Rock e Amiga, mal sabiam que existiam, e diz o Rock:
- Ó Prime! Vocês a comerim assim, num ingordim! Por isse é que enchem a mula no Verã! Mas a bebê vocês sãm valentes! Porra! Que o vinho aqui tamém é do melhó! Só é pena, as mines serem um produte escasse por estas bandas!
- Pous é! Tou munte cuntente de vocês cá tarrrrrim! Merrrrrrci beaucoup! – diz o Prime.
- Ó Rock! Ele tánes a dezê que eu tenhe o quê? Um bom cú!? Tá apénhéde!? – Diz a Amiga.
- Nã prrrrrima! Num tás a perrrrrrcebé! Merrrrrrrrrci beaucoup, qué dezê, munte obrrrrigade! – Diz o prime:
- Ah tá bem! A falá é que agente sintende!
Na tarde seguinte, o Rock e a Amiga, reúnem-se com a comunidade de Nisa que vivem em França.
E diz o tio, do prime, do avô, que era afilhado da mãe da Amiga:
- Vames exprimentá o Vinhe do Jaquim Feguêrede?!
- Vá fora! – Responde o Rock.
Ao fim de uma hora, ainda não tinham começado a reunião e já tinham “mamado” o Vinhe do Jaquim Feguêredo e “arrebentado” com as cervejas que haviam na arca. Até que diz um Nizorro Francês:
- Vames lá falá da estátua! Porque razãm ainda num nes resolverim a história da Estátua! Dizim as más línguas que a Presidenta num qué fazê uma estátua ao imigrante!
- Pous é! Dizim as más línguas que ela qué fazê a estatua áqueles que por lá fecarim e nãm abandenarim a Vila! Mas nãm se priocupim cum isse! Nós somes os esculhides e está tude tratéde. Ê más a Amiga, vames aproveitá o Natal, que é quando ela anda más imbaixe, e sensibilizamezea, ela chora muite e a gente, quando ela menes espera, chumbames a bandêra da França, na ponta du bique da fonte, quela mandou lá pós lades das três marias!!!
- Isse vai dá uma grande tourada! – Responde o Nizorro Emigrante.
- Num vai dá nada! Desde que lhe roubámes a Valquíria, ela já percebê que nós somes os esculhides! Se ela pôde desviá a fonte tãm amada da pupelaçãm, nós também pudemes pendurá lá na fonte, o que nes apetecê e onde nes apetecê! E onde diz CMN esfregames com lexiva pura e pomes uma placa a dezê:
“ Esta estátua representa todos os de fora que pra cá vierim , sim esquecê, os que há munte mais tempe, foram imbora mas que um dia hadim voltá!!!”
E assim, ninguém se zanga!!! A Presidenta faz o que ela qué! E nós, que somes os esculhides, tamém fazemes o que vocês querim! Assunte arremade! – Diz a Amiga.
- Tãm, nós os Nizorros Franceses, vames cunfiá im vocês! Esperemes que nãm venhim cá muitas vezes. Vocês beberim más im três dias, que as Velhas Guardas numa semana!!! De qualqué forma é sempre bom ter cá a famila!

Chegada a hora da partida, outra arrelia! A sorte é que o motorista era o mesmo, e ficando com mais um terço da carga, lá os trouxe de volta a Nisa, mas desta vez, cheio de bolachas, chocolates, queijos, pastilhas, perfumes, camisolas da “Adidas”, da “Nike” e uns pólos da “Lacoste”, para levarem à apanha da azeitona! Claro, que jamais, o Rock e a Amiga viriam da França, sem a “gelêra”, só desta vez, lá dentro vinha vinho, muuuuuito vinho!
Já em Portugal, descarregando a bagagem grita a Amiga:
- Ó Rock desviate! Ólhó carro! Tu não vês que tames no mei da estrada?! – Diz a Amiga.
- Pous tou! É pra tu vês, o que nesespera! Eles já ne cravarim aqui même no mei da estrada a ver se nes vai acabande com o “cagá”!
Vou vê da “famel” e do reboque, pra podemes escundê a bandêra e o mastre! – Responde o Rock.
- É melhó é! Com tantes infiltrades espalhades por aqui, já sabe, Rock! Já sabe! Enquante ê tevé lá na garage o bidom de gasolina e o maçarique estames garantides!
Afinel, nós somes ou num somes os esculhides!?- Diz a Amiga.
- Somes! Onde vames bebê uma mine?- Pergunta o Rock.
- Uma!? Só se fô uma grade!!!