Rock e a Amiga oferecem "Oliveiras" de Natal - Parte VII

Depois de terem vindo da França, o Rock e a Amiga entraram numa depressão indescritível! É de uma falsidade enorme, não compreenderem o quanto custas aos Nisenses estar tanto tempo longe da Família. O mínimo que podiam fazer era erguer a tal estátua pedida por quem cá lá está e, por quem já voltou. Mas quem “produz” pedra raramente sente com o coração…é uma pena, afinal no oriente a honra vale mais que tudo!


O Rock ranhando-se todo, lá acalmava a Amiga que inconsolável chorava dia e noite.
- Temes de lha acabá com o “Cagá”, ó Rock! Tãm aquela grandessissema, num cumpreende que nós somes os esculhides e que a gente é que diz comé qué!? Vem ai o Natal e é todos os anes o même desconsole! – diz a Amiga.
- Tens razãm Miga! Ela vei pra cá arruiná o pouquechinhe que cá tinhimes! Oulha!Tive uma ideia! Vames arrancar as oliveiras todas e, come forma de proteste, vames infêtá a vila! Cada Olveira representa um Francês Nizorro! – Diz o Rock.
- Uma Olveira pra quim quesé! Num pomes penheires para num estragá o negóce dos nossos tãm amades e querides bumbêres! Quande acabá o Natal, vames recolhê tude na “Famel”, quê já ouvi dezê, que andim prai uns, que apanhim tude e plantim!Eles que vãm platá o raio que os parta, que o qué nosse ninguém planta! – Diz a Amiga.
Arrancadas as oliveiras, o Rock e a Amiga decidem pedir o “Dumper” à Junta de Freguesia, para trazer as Oliveiras para a frente da “Casa da Cultura”.
Fizeram um apanhado e deduziram que havia mais emigrantes em Nisa do que gente da própria terra… Três dias que durou a acção! Ao fim de três dias diz o nosso Presidente da Junta, Fernando Marquês:
- Tãm mas comé qué! A Junta precisa do “Dumper”!
- Tem razãm senhô, presedente! Mas a gente criimes se vesti de pai Natal e Mãe Natal para oferecê as olveras aos nosses Nizorres Franceses e criimes levá-las imcima du Dumper! É que num sê se está a vê bem!? De “Famel” num dá, nim cum o Reboque! É que pa “rena Alentejana” já cheguim “os desgraçades solidáres”lá de cima da hidro! – Diz o Rock.
- Vá a vê! Dou-ves dois dias! Se em dois dias não levarem o “Dumper”, venho cá buscá-lo! – Responde o Presidente da Junta.


- Vês! É Num te disse que ele num era como os outres?! Ele é amigue da gente e dos emigrantes! Vê-se logue, que ele num tem etiqueta! Os que num tãm à venda sente-se pelo chêre! – Diz a Amiga.
No dia seguinte, o Rock e a Amiga, disfarçados de Pai e Mãe Natal, recebem de braços abertos os miúdos, à porta da biblioteca, ao mesmo tempo que lhes perguntavam:
- Como te chamas amiguinho? – pergunta o Pai Natal.
- Tonho Juãm, Pai Natal! –responde um menino.
- Tens famila na França?
- Tenho mê ti!
- Tens um ti?! Ou tens dous?
- Tenhum ti, Pai Natal!
- Mãe Natal! Dá ai uma olvêra!
- Toma mê filhe!Diz a tua mãe que a ponha à porta, com fitas e luzes de Natal. Cada árvore representa um ti na França! – explica o pai Natal.
- Seguintes!
Como te chamas minha linda!?
- Sarita! – responde uma menina.
- Sarita! Muito bem meu amor! Tens famila na França?! – pergunta o Pai Natal.
- Tenho sim, Pai Natal!
- Quem tens na França, Sarita!?
- A minha tia Zefa, o meu ti Severine, e os mês primes Soniá, Jusefine, e Estephanie!
- Vai lá a casa e diz a tê pai para vir cá buscé cinque olveras!
- Mas mê pai num tem Carre!
- Mãe Natal! Agarra no “Dumper” e vai levá cinque olvêras a casa da nossa Sarita!
E assim aconteceu durante dois dias. No segundo dia, o serviço estava terminado às duas da tarde. E pegando no “dumper”, lá iam o Rock e a Amiga, a dizer adeus por onde passavam (parecendo a Rainha Isabel II), felizes da vida por verem Nisa toda iluminada! Ao chegar ao largo do Boqueirão, diz a Amiga prá Zezinha:

- Tá ai o nosse Presedente?
- Está sim. Vou chamá-lo! – responde a Zezinha.
- Tão come? – Diz o Presidente.
- Ê num te disse que num falhéva! Somes brutes e bêbades, mas munte unestes, num fossemes nós os esculhides! – Diz a Amiga. – Já aqui tem o “Dumper”. Obreguéde!É dum home assim que a Cambra precisava…se precisá da gente, já sabe!Ou tames no Siopa! Ou tames no Chapim!
Enquanto bebiam o canudo da metade, diz o “Ti Chapim”:
- Tãm mas onde é que vocês têim andade!? Num vês veje há más dum mês! Vierim aqui à vossa procura, por causa de vê onde fica a criança...
- Fomes à França! Mas quim é que vei vê da gente prá fecámes com uma criença?! – pergunta o Rock.
- Eles erim dous! Um vinha vestide de vermelhe, parecia do Benfica. E tinha uma barbas tãm grandes que dava para fazer um tapete. O Outre, coutadinhinho! Vinha arreganhade! A uneca cousa que trazia à cintura era um pane desses dos chineses com um gate! Num sê explicá quim são, mas choravim! O mais pequene entãm, esse chorava tante, que até lhe ofereci o bagace! – Diz o Ti Chapim. – Eles forim ali pos lades da Devesa.
Bebendo os palmeiros de “Cogulo”, lá vai o Rock e a Amiga à procura dos dois “sem nome”.
Ao chegarem ao antigo matadouro, o Rock e a Amiga apercebem-se que lá o fundo da azinhaga, estava um homem de barbas grandes, vestido de vermelho, a ralhar com monte de palha. Aproximando-se pé ante pé, pergunta-lhe o Rock:



- Ó Pssssssst! Que tás tu a fazé aqui escundide?
- Estou zangade! Já perdi a esperança! Há séculos que trabalhe que nem um desalamado e este gajo, nim cresce, nim qué mexa! Vim a Nisa à procura dos esculhides e nim esses me aparecim! Estou farte do Natal! – Diz o Pai Natal.
- Ó amigue! Nós somes os esculhides! Que qué vomecê que a gente lhe faça!? – Diz o Rock.
- Quer que me finquim cum ele. Falta 10 dias pó Natal…Num posse intrá pelas chamenés com esta criancinha que todo dia berra! Ora assim todos sabem que ê lá estou! – Diz o pai Natal.
- Tãm porque nã o dêxou com a mãe dele?! – pergunta o Rock.
- Num sabemes dela? Aqui dizim que há uma nossa senhora. Será que ela, o qué lá im casa? – interroga-se o Pai Natal.
- Hummmm…se calhá fica com ele! Ela tem muite jeite para dar guarida aos que vêm de fora!
Mas aqui há um problema. É que há um Rei Herodes lá pos lades da Amieira, se ele sabe que há cá um que é um futuro dono disto tude!!Está o calde intornéde! – Diz a Amiga.
- Tãm num sê! Aché que come aqui havia tanta gente hablitéda pró presépe, conseguiria resolvê o assunte! – Lamenta o Pai Natal.- Se aparecesse Deus!
- Esqueça lá isse! Cada vês que a luz cá vem borrame-nes todes! – Diz o Rock. – Olhe vames ali ó Prime Manso mas é bebê qualqué coisa. Cá pramim iste é falta de combustível!



- Tão e onde dêxe o menine, nas palhinhas deitáde, nas palhinhas estindide?! – Pergunta o Pai Natal.
- Reza a estóra que ele quando fô grande vai sê carpintêre! Vames dexá-lo ali más acima na Mobiladora Nisense para vê se ele começa já a aprendê a vergá a mola! Algum cousa eles lá adim arranjá! – Diz o Rock.


- É juste! Essa de o Natal sê de nós dous e, só um é que trabalha, tem que acabá! –diz o Pai Natal.
- Vês! – diz o Rock para a Amiga.- Somes ou num somes os esculhides?!
- Prime Manse! Três mines, que o Pai Natal já num bebe coca-cola…ah! E pode mandá fritá uns ressoles! Parece-me que homê tem passade fome e depois num fica inteléde na chemené…


“Não percam o próximo Episódio porque nós também não!”

Próximo Episódio: "Rock e a Amiga, o Pai Natal, a Vaca, o Burro e o Menino em Nisa"