quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Rock e a Amiga vão a França - Parte VI



Estavam eles bebendo o tinto cheio, ainda baralhados com a situação da “aparição”, diz o rock para a Amiga:
- Num sabêmes quim foi! Mas temos uma certeza! Aquela cousa dênes o trabalhe de pômes orde im Nisa! Num pudemes falhá! Senãm já sabes, lá vem a luz outra vez!
- Tens rezãm! Eu num tinha munta vontade de voltá a vê aquile! Pela orde dos trabalhes, devemes tratá primêro dos que tãm lá fora e, vê se eles voltim cá pa dentre! E como nes tames à aproximá do Natal, nada melhó do qui lá agora! – Diz a Amiga.
- Lá donde?! Onde é que tu quês i?!
- À França! Passim a vida toda a mandánes postels e a cunvedénes pra lá dimes!
- BAH! Num me digas tu uma cousa dessas?! Tãm come a azêtona já tá apanhéda e vindida, podemes di passié, sim senhora! Até pode sê ca gente arranje pra lá um negôce!
- Lá tás tu com o negóce! Agente vá lá tratá das cousas das “gentes de Nisa”! Eles querim uma estátua! E a gente, porque somes os esculhides, vames lá perguntá de que lade é que eles a querim!
- Sexta que vem vames á França! Fecames im casa do “Prime Daniel”…

Na sexta-feira seguinte, às 11 da manhã, com uma espampanante vista e um barulho avassalador, saiem pela porta da Vila, o Rock e Amiga na sua famel com reboque. A mercadoria era tanta, que o “pára-choques” ao raspar no chão, fazia faísca! Chegados ao local de embarque, na Avenida D. Dinis, junto ao tribunal, no meio da estrada e diz o Rock:
- Temes de tirá tude à pressa, pra podemes escondê a “famel” atrás du tribunel! Quim lá vai, vai tãm aflite que nim vê a“famel”!



- Bom dia! Os senhores não podem levar esta mercadoria toda! – Diz o motorista.
- Num pudemes?! Atãm onde é que nós metemes agora três sacas de azêtonas arretalhédas, três caixas de Vinhe do Jaquim Feguêrede, três garrafões d’azête, 50 quêjes, as 50 cacholêras, a geleira, o taparuiere da boia de toucinhe e da morcela e os nosses pertences!? – Diz a Amiga.
- É que di à França e dêxá cá isse, é o même que di às termas e nãm vê a Valquíria!!!
Mas oulhá senhô motorista! Tames quase no Natal. Queremes levá pra lá umas lembrancinhas! Se lhe demes três quêjos, um garrafã de’azête, três cacholeras e uma caixa de vinhe do Jaquim Feguêrede, dêxa-nes levá o reste?! – Diz o Rock.
- Vá! Entrem lá! Tudo se resolve! – Responde o Motorista.
- Já viste tu o magane do metorista que lá nes fecou com a inquemenda! Hora o que gente levames, com o que lhe demes, não pesa a mesma cousa!? – Diz a Amiga.
Passadas quatorze horas, lá chegam o Rock e Amiga a Azay-le-Rideau. O Rock e a Amiga estavam de boca aberta, com a falta de lixeiras a céu aberto que havia em França, a falta de rios a cheirar a óleo “Friji” e, também não há frigoríficos e máquinas de lavar espalhadas por todo o lado… Mais estupefactos ficaram ao saber que em Paris, a água dos esgotos são aproveitadas, tratadas, devidamente desinfectadas para abastecimento da população novamente…


A Festa de boas vindas foi de “Arromba”! O Rock e a Amiga desconheciam por completo, a quantidade estúpida de litros de vinho que havia por metro quadrado na França.
Chegados a casa do Primo “Daniel”, que é sobrinho, do tio da avó materna, do lado do pai, ou seja, do avô, diz a Amiga:
- Ó Rock! Tu já viste bem iste! Tá tante calor dentre das casas que até podim andá plaches! A gente lá im Nisa, tá um fri do catane! Só cunseguimes tá debaixe da chamemé!
Chegada a hora de jantar, O Rock e Amiga, habituados a sopas de cachola, ensopados, morcelas, bóias de toucinho, deparam-se com uma mesa cheia de vários tipos de queijo, vários tipos de saladas e massas, enfim, um conjunto de pratos que o Rock e Amiga, mal sabiam que existiam, e diz o Rock:
- Ó Prime! Vocês a comerim assim, num ingordim! Por isse é que enchem a mula no Verã! Mas a bebê vocês sãm valentes! Porra! Que o vinho aqui tamém é do melhó! Só é pena, as mines serem um produte escasse por estas bandas!
- Pous é! Tou munte cuntente de vocês cá tarrrrrim! Merrrrrrci beaucoup! – diz o Prime.
- Ó Rock! Ele tánes a dezê que eu tenhe o quê? Um bom cú!? Tá apénhéde!? – Diz a Amiga.
- Nã prrrrrima! Num tás a perrrrrrcebé! Merrrrrrrrrci beaucoup, qué dezê, munte obrrrrigade! – Diz o prime:
- Ah tá bem! A falá é que agente sintende!
Na tarde seguinte, o Rock e a Amiga, reúnem-se com a comunidade de Nisa que vivem em França.
E diz o tio, do prime, do avô, que era afilhado da mãe da Amiga:
- Vames exprimentá o Vinhe do Jaquim Feguêrede?!
- Vá fora! – Responde o Rock.
Ao fim de uma hora, ainda não tinham começado a reunião e já tinham “mamado” o Vinhe do Jaquim Feguêredo e “arrebentado” com as cervejas que haviam na arca. Até que diz um Nizorro Francês:
- Vames lá falá da estátua! Porque razãm ainda num nes resolverim a história da Estátua! Dizim as más línguas que a Presidenta num qué fazê uma estátua ao imigrante!
- Pous é! Dizim as más línguas que ela qué fazê a estatua áqueles que por lá fecarim e nãm abandenarim a Vila! Mas nãm se priocupim cum isse! Nós somes os esculhides e está tude tratéde. Ê más a Amiga, vames aproveitá o Natal, que é quando ela anda más imbaixe, e sensibilizamezea, ela chora muite e a gente, quando ela menes espera, chumbames a bandêra da França, na ponta du bique da fonte, quela mandou lá pós lades das três marias!!!
- Isse vai dá uma grande tourada! – Responde o Nizorro Emigrante.
- Num vai dá nada! Desde que lhe roubámes a Valquíria, ela já percebê que nós somes os esculhides! Se ela pôde desviá a fonte tãm amada da pupelaçãm, nós também pudemes pendurá lá na fonte, o que nes apetecê e onde nes apetecê! E onde diz CMN esfregames com lexiva pura e pomes uma placa a dezê:
“ Esta estátua representa todos os de fora que pra cá vierim , sim esquecê, os que há munte mais tempe, foram imbora mas que um dia hadim voltá!!!”
E assim, ninguém se zanga!!! A Presidenta faz o que ela qué! E nós, que somes os esculhides, tamém fazemes o que vocês querim! Assunte arremade! – Diz a Amiga.
- Tãm, nós os Nizorros Franceses, vames cunfiá im vocês! Esperemes que nãm venhim cá muitas vezes. Vocês beberim más im três dias, que as Velhas Guardas numa semana!!! De qualqué forma é sempre bom ter cá a famila!


Chegada a hora da partida, outra arrelia! A sorte é que o motorista era o mesmo, e ficando com mais um terço da carga, lá os trouxe de volta a Nisa, mas desta vez, cheio de bolachas, chocolates, queijos, pastilhas, perfumes, camisolas da “Adidas”, da “Nike” e uns pólos da “Lacoste”, para levarem à apanha da azeitona! Claro, que jamais, o Rock e a Amiga viriam da França, sem a “gelêra”, só desta vez, lá dentro vinha vinho, muuuuuito vinho!
Já em Portugal, descarregando a bagagem grita a Amiga:
- Ó Rock desviate! Ólhó carro! Tu não vês que tames no mei da estrada?! – Diz a Amiga.
- Pous tou! É pra tu vês, o que nesespera! Eles já ne cravarim aqui même no mei da estrada a ver se nes vai acabande com o “cagá”!
Vou vê da “famel” e do reboque, pra podemes escundê a bandêra e o mastre! – Responde o Rock.
- É melhó é! Com tantes infiltrades espalhades por aqui, já sabe, Rock! Já sabe! Enquante ê tevé lá na garage o bidom de gasolina e o maçarique estames garantides!
Afinel, nós somes ou num somes os esculhides!?- Diz a Amiga.
- Somes! Onde vames bebê uma mine?- Pergunta o Rock.
- Uma!? Só se fô uma grade!!!

6 comentários:

  1. Anónimo10.12.09

    Amiga "Tagarela"!
    Quero dizer-te que isto a brincar também se dizem muitas verdades.
    Primeiro quero fazer-te uma sugestão:
    Juntar todos estes textos do Rock e da amiga para pensar num belo livro. Fica a sugestão.
    Sabes que este assunto da emigração é um assunto que me dá muito que pensar..
    Quanto mais penso mais me questiono sobre quais serão as verdadeiras razões da aversão do pessoal que tem tido o o poder sobre a homenagem mais que justa que os nossos emigrantes merecem.
    Já pensaste Margarida recolher depoimentos sobre a ida a salto, na grande maioria dos pioneiros e sobre as condições de sobrevivência de cada um deles?
    Mais um tema fantástico para um livro...
    E há por aí tanta malta que palmilhou estes caminhos a pé, sem conhecer o seu destino.
    E aqueles que foram o garante de muita gente cá no Burgo?
    Acho que está mais do que na hora da justa e merecida homenagem.
    Sugiro que apresentemos ideias.
    Fica ainda daqui um apelo, há muita desta malta que já partiu para o descanso eterno, mas ainda por aí há muito boa gente que dá grandes histórias.
    Aproveitar até que ainda por cá estão entre nós.
    E já agora sem ter nada a ver com o assunto também no mesmo patamar se encontra o pessoal que esteve na guerra do ultramare dos quais deconhecemos histórias e existências.
    Fica o apelo!
    Se precisares de ajuda dá-meum sinal!
    Beijos!

    ResponderEliminar
  2. Bom dia!
    Algumas das suas sugestões estão a ser postas em prática.Digo-lhe mais ainda.Estou à espera do primo Guido este Natal, para saber se ele está interessado em fazer o Rock e amiga comigo em banda desenhada!
    O Rock e Amiga que sairá em livro será um sobre assuntos nacionais...entretanto, vou-vos oferecendo estes só para os Nizorros!
    A sua idéia de se fazer um bom trabalho sobre quem partiu, não tenho familia na Fraça, mas tenho muitos amigos. É pena só poder vê-los no Verão.Portanto terei de investigar bem a "coisa" por aqui!acho que esse trabalho deve ser feito com alguém que foi mas já voltou...penso eu!Sei também que o senhor Conicha, através do Jornal tentou fazer um bom trabalho, mas infelizmente, a Nossa senhora está surda!!!
    Essa de quem teve no Ultramar, acho que foi uma idéia excelente mas que nunca me passou pela cabeça!Cinco estrelas!E dentro em breve falaremos disso...
    Obrigada pela ajuda,
    Abreijos

    ResponderEliminar
  3. Anónimo10.12.09

    Uma fofoca:
    Contaram-me que a feira lá em cima ao pé dos lelos foi assaltada!!!
    Tal é a crise que ate ja assaltam os lelos!!!

    ResponderEliminar
  4. Anónimo16.12.09

    QUANDO HA NOVO EPISODIO DO ROCK E A AMIGA, E QUE E DE PARTIR O COCO A RIR.

    ResponderEliminar
  5. Vou ver se o escrevo hoje...

    ResponderEliminar

Obrigado, volte sempre...